Hume, com a sua análise sobre a experiência estética, sugere-nos que parte do seu valor reside numa contribuição distinta e insubstituível para o desenvolvimento humano, que não deve e não pode ser reduzido à sua utilidade moral, política ou prática. As convicções de Hume são particularmente importantes no seu projeto. Ele era um cético de tal modo neurótico que ainda hoje, mais de 250 anos depois da divulgação dos seus textos, se prova um desafio escrever uma crítica ao seu projeto, pela laboriosa e intensa análise que isso implica.
Onde reside, então, o valor da experiência estética? Não necessariamente o que ela nos traz, porque isso nos limita a uma perspetiva utilitarista, mas o que deve motivá-la? O que existe antes do resultado? Que objetivo deve ter a pessoa que procura criar ou participar na experiência estética? Que motivo pode o ser humano ter para algo que, tanto quanto sabe, pode não ter utilidade nenhuma?
Assume-se que é algo que o ser humano quer. E o desejo é algo muito poderoso, mas nem sempre visível. A palavra ‘querer’, em português, tem uma conotação quase negativa, que nos leva a esconder este tipo de emoção considerada ‘imatura’. ‘Eu quero!’ é uma exclamação que lembra imediatamente uma criança mimada. Está claro que a experiência estética está profundamente ligada à emoção. Não é nada de novo, William James já interligou os dois conceitos num extenso e aprofundado escrito publicado em 1884.
Mas… confesso que nem sempre o que eu acho estético é algo que eu quero. Quando me deparo com uma notícia sobre um ou outro crime, não quero ver uma imagem horrenda que demonstre a sua brutalidade. Mas seria desadequado ver alguém sorridente paralela ao cabeçalho. A estética deve ser adequada ao que se apresenta numa situação, assemelhando-se mais a um sentimento de justiça do que a uma manifestação de desejo.
Mas então… Que estética devemos procurar? Se a estética e as emoções estão conectadas, então porventura existe um sistema estético que podemos construir, semelhante ao sistema moral que construímos para funcionarmos em sociedade, a Justiça. Um objetivo para o qual devemos caminhar. Um sistema que pode servir como base da criação de uma experiência estética e como tal ser apelativo a todos os seres que têm em conta o bem-estar da sua sociedade. Uma ‘Virtude estética’
A minha posição aqui é clara. Não existe este sistema perfeito. Podemos ver exatamente o que a tentativa de criar um sistema imutável causa, basta olharmos para o sistema judicial e a sua bem intencionada, mas desastrosa tentativa de proteger a ‘Virtude’ que é a Justiça.
Se não podemos construir um sistema perfeito, devemos pelo menos ter algumas bases em conta. Hume divide as Virtudes em duas grandes categorias: naturais, como a prudência e a boa disposição; e artificiais, como a Justiça, que foi construída sobre desejos coletivos de bem-estar, que nada mais é do que uma manifestação de compaixão.
O apelo da estética, e a razão pela qual ela surje muitas vezes como conector entre pessoas de opiniões discordantes, provém precisamente deste sentimento. A Estética e a Justiça estão muito mais próximas do que aparentam. No seu berço, ambas provém da compaixão.